Infectologistas têm papel fundamental na luta contra infecções hospitalares
Guilherme Spaziani, responsável pelo CCH do Hospital São Francisco |
Um relatório publicado em julho de 2018 pelo Banco Mundial, a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que 7% dos pacientes internados irão
adquirir alguma infecção durante sua passagem pelo hospital. Isso em países de
renda alta. O índice sobre para 10% em países de renda média ou baixa. No
Brasil, o Ministério da Saúde estima que a taxa de infecções hospitalares
atinja 14% dos pacientes.
A Resistência aos Antimicrobianos (RAM), que nada mais é do que a
capacidade de um microrganismo resistir aos antibióticos, causado
principalmente pelo uso desmedido e irracional desse tipo de medicamento,
também têm preocupado bastante a comunidade médica no mundo todo. A OMS
divulgou que a lista de bactérias resistentes foi de sete em 2014 para 12 em
2017. Juntos, essas duas ocorrências têm causado muitas mortes e prejuízos às
redes de saúde, tanto públicas quanto particulares.
Para prevenir cada vez mais esses incidentes e manter sempre
atualizados os protocolos de segurança ao paciente, os melhores hospitais
dispõem de médicos infectologistas encabeçando a Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCH), obrigatória em todo hospital, uma vez que são os
especialistas tanto em infecções quanto em antibióticos.
“O meu papel é tentar minimizar
as infecções hospitalares, evitar as infecções que acontecem em unidades
críticas do hospital, além de uma atuação bastante importante na racionalização
de antimicrobianos, que é usar os antibióticos mais corretos para prevenir a
resistência bacteriana, que é uma preocupação bastante grande de toda a classe
médica, principalmente os infectologistas, porque os novos antibióticos vão
sendo criados mais lentamente do que a própria resistência bacteriana”, resume
o especialista em infectologia Guilherme Spaziani, responsável pelo CCH do
Hospital São Francisco, em Cotia.
Spaziani explica que a infecção
hospitalar é um risco inerente à internação prolongada, especialmente em
unidades críticas, como UTIs, uma vez que as bactérias que existem no hospital
são mais resistentes porque lá se usa mais antibióticos do que em casa. “A
pneumonia que a gente pega em casa ou a infecção de urina que a gente pega em
casa, por exemplo, são bactérias que respondem a antibióticos como comprimidos,
já a infecção que você pega de uma bactéria que mora no hospital necessita do
uso de antimicrobiano, um antibiótico mais agressivo, geralmente endovenoso,
por mais tempo, é uma bactéria mais difícil de ser tratada”, diz.
Segurança do paciente em
primeiro lugar
Por isso a presença de
infectologistas faz toda a diferença na rotina hospitalar. Esse tipo de
especialista tem condições de avaliar se o paciente precisa de fato daquele
antibiótico e qual o melhor indicado para a situação dele. O uso indiscriminado
desse tipo de medicamento, tanto pela comunidade médica quanto por pessoas que
se automedicam, têm colaborado grandemente para que cada vez mais bactérias se
tornem imunes aos tratamentos.
“Os antibióticos precisam ser
usados de maneira inteligente e apenas quando necessário”, frisa o médico, que
aproveita para destacar a importância de se manter rigorosamente os protocolos
ligados aos pacotes de medidas para minimizar as infecções nos pacientes que
ficarão internados. Segundo ele, tais medidas vão muito além de questões de
higiene, que são o mínimo exigido, mas contam também com a escovação dos dentes
do paciente, evitar o uso de cateteres, lavagem constante das mãos etc. “Quem
monitora essas ações é o médico infectologista e a CCH fazendo rotineiramente
visitas multidisciplinares, visitas infectológicas, para prevenir ao máximo as
infecções e o correto uso dos antimicrobianos”, afirma.
No Hospital São Francisco, conta
Spaziani, a infraestrutura é totalmente adequada para que esse trabalho seja
feito em sua completude, já que isso também influencia bastante nas medidas
preventivas. “Todos os protocolos já existem, as estruturas físicas das UTIs,
tanto pediátrica quando adulto, são bem dimensionadas, a qualidade técnica dos
funcionários que trabalham diariamente é muito boa e eu acho que o Hospital tem
tudo para estar de acordo com essas normas de controle de infecção”, garante.
Como todos podemos evitar a
resistência bacteriana
Com relação à resistência
bacteriana, o médico orienta que todos podemos colaborar para que ela
desacelere, começando pela não automedicação. “Diante de um quadro
provavelmente infeccioso, uma febre, calafrios, sintomas que nos levam a pensar
em doenças infecciosas, procure uma unidade de pronto-atendimento para passar
por um especialista e tratar de maneira correta essa infecção e não se
automedicar, que é o que acontece muitas vezes”, diz o médico.
Manter o sistema imunológico
forte e os exames de rotina em dia também é importante, já que evita a
incidência de doenças mais graves que levem a internações, diminuindo a
exposição às infecções hospitalares.
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